3 de junho de 2008

Ah, não compensa. São só menos 13 cêntimos!

Ir a Espanha meter gasóleo tornou-se no passeio das terças.
Metemo-nos no carro, curvas e contracurvas até se passar a Portagem. A Serra em flor, o Marvão lá no alto, nave espacial de pedra ancorada numa crista de rocha. À esquerda o desvio para Santo António das Areias e as casas abandonadas dos guardas-fiscais. Entrar em Espanha e pensar em rumar (não fora o preço dos combustíveis!).
Na bomba, mesmo depois da fronteira, as pessoas falam igualmente português e espanhol e fica-se na dúvida da nacionalidade. Menos 13 cêntimos. Não compensa o desgaste, os quilómetros, com um desconto do Modelo fica-se na mesma.
E a viagem, senhores. A viagem? A Serra em flor, o Marvão, o céu em azul?
Nós os dois, terríveis, dentro do carro. A rir, a rir.
Do lado de fora do casinhoto onde se paga exibem-se recipientes para o 'contrabando' de combustível: são pequenos bidões verdes escuros que piscam o olho ao condutor português - e todos os condutores são portugueses.
O casinhoto prolonga-se num inenarrável armazem, onde se acumula, desordenado, todo o kitsh de Espanha. De repente, aquilo é um filme do Almodóvar: há galochas e brinquedos foleiros; chapéus de palha e perfumes baratos. Tudo tem um ar desolado, miserável. Há batatas. Há chocolates. Pessoas que saem com sacos de caramelos. Não era isso que comprávamos dantes em Badajoz? Antes do Corte Inglès? Os Bola de Neve eram tão deliciosos: para que raio queríamos os caramelos que se colam aos dentes e deixam um lastro a pinhão dos espanhóis?
Compramos, cada um, um volume de tabaco: 10 maços LM (não há Marlboro, não há Português Azul, não há Davidoff Branco), convencidos que fizémos uma enorme economia. Poupar bolsos e pulmões deixando de fumar não nos passou pela cabeça.
(-Vamos fumar?
-Bute!)
De regresso, voltamos pela Serra. A Apartadura lá em baixo, nesga de azul no meio do verde. Cheia. A curva no Porto da Espada. ( - Esqueci-me que era para virar aqui!), as vivendas de campo (pois...) de alguns que mantêm casas na cidade.
Robinson à esquerda, Praça da República à direita. Eis-nos de novo em Portalegre.
Demorou talvez a viagem. Menos 13 cêntimos por litro. Fizémos 40 km. E rimos muito. Especulámos (- Achas que os passarinhos têm problemas em voar por causa da chuva?). Destilámos veneno.
E a Serra em flor, o Marvão, a Apartura e o céu? Somos nós, na fuga pela fuga.

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