31 de dezembro de 2016

1976-2016

Lembro-me daquele tempo em que pensava:  o ano 2000, vou ter 24 anos e vou ser velha. De repente, já passaram 16 anos e fiz 40.

Lembro-me de ter feito 21. Era 1997 e o mundo estava ainda cheio de futuro, promessas e coisas nobres.

Este ano fiz 40 e o mundo é agora muito diferente. Cheguei talvez a meio da minha vida. Pergunto-me que futuro há, que promessas restam.

Como não sei a resposta (há respostas?),    decidi que a única solução é viver no presente, sem antecipar o futuro, sem revolver o passado.

Somos uma soma, um caminho.

O meu continua agora.

17 de outubro de 2014

As fraldas (a review que faltava)

Em Fevereiro do ano passado, depois de alguma pesquisa na internet, resolvi-me a ir a Lisboa à Ecologicalkids aprender sobre fraldas ecológicas: de tecido, reutilizáveis, laváveis, giras, caras. Quando comecei a ponderar seriamente essa opção, em detrimento das fraldas descartáveis, toda a gente me disse que era louca. Como sou mesmo, acabei por comprar um conjunto e sinto-me finalmente capacitada para responder às questões dos incrédulos.

1. Fraldas de tecido? Mas estamos no século passado ou quê?
A ideia vulgar que temos acerca das fraldas de tecido é a daquelas velhas fraldas presas com um alfinete. Embora ainda haja dessas, eu não sou assim tão ecológica (nem tenho criadagem), por isso optei pela versão século XXI.


O formato geral é o de uma fralda descartável. O exterior é à prova de água e o interior tem um tecido que parece polar e que mantém a humidade afastada da pele. Esse tecido forma um bolso, onde se introduz o absorvente, que pode ser maior ou menor, consoante a absorção desejada.
Como são de tecido não são à prova de tudo. Já aconteceram algumas fugas de xixi, mas nada de grave. A S. já dormiu noites inteirinhas com uma. E quando falo de noites inteirinhas, refiro-me a pelo menos 8 horas de sono. Pelo sim, pelo não - e como ela dorme bastante - à noite prefiro usar uma descartável.

2. Pois, muito interessante e como é que as lavas? E o que é fazes aos cocós?
Na máquina da roupa, num programa com pré-lavagem, a 40ºC. E saem branquinhas e sem cheiros absolutamente nenhum. Verdade.
Uso este detergente, que é absurdamente caro. Mas a quantidade a usar é mínima. Se se lavarem 10 fraldas, uma colher de sobremesa chega perfeitamente. Usar muito detergente não limpa mais a fralda, pelo contrário. Deixa resíduos e piora a performance dos tecidos.
Quando os cocós são líquidos, bom, temos de os deixar na fralda (eu passava por água corrente para retirar os excessos). Mas a S. começou agora os sólidos e passei a usar revestimentos biodegradáveis, que permitem apanhar o pequeno cocó e deitá-lo na sanita. Sim, sem sujar as mãos. E mais, se a fralda não estiver cheia, é só colocar um novo revestimento.
3. Pois, mas deve ser cá um cheirete em casa... onde é que guardas isso?
Tenho uns sacos próprios, com um fecho no fundo. Ao longo do dia, vou deixando lá as fraldas sujas. Depois, agarro no saco, abro o fecho e ponho tudo na máquina da roupa, sem tocar nas fraldas. Com a lavagem, os absorventes acabam por sair de dentro da fralda e fica tudo limpo.
E, lamento desiludir-vos, mas as fraldas descartáveis são infinitamente mais fedorentas.

4. Está bem, mas isso é tudo uma grande trabalheira.
É. Mas pelo menos não é preciso passar a ferro, ao contrário de todas as outras micro-roupas.

5. Vá, agora a sério, diz lá o que pensas.
Gosto bastante, embora, por exemplo, para a noite ou para sair, as fraldas descartáveis sejam mais práticas.
São mais giras e divertidas; não provocam assaduras, nem é preciso andar a besuntar o rabiosque com creme; são fáceis de colocar (às vezes, até me parecem mais fáceis de pôr porque, como são mais pesadas, não deslizam tanto); são fáceis de lavar (a fralda propriamente dita sai praticamente seca da máquina, mas os absorventes levam mais tempo, o que é aborrecido em dias de chuva); não cheiram mal. Não são tão intuitivas (nem podiam ser) como uma fralda descartável. É preciso perceber como funcionam, ir ajustando molas, ir ajustando absorventes, ir ajustando lavagens, até se dominar razoavelmente a coisa.
Se, de facto, durarem os dois anos e meio/ três que o bebé usa fraldas é um excelente investimento - ao contrário da roupa xpto que usou uma vez e lhe deixou logo de servir.


27 de agosto de 2014

Três meses

1. Maldita ocitocina
A história começa com mamas. As minhas. Inchadas como bolas de basquete desde o dia que chegámos a casa do hospital e durante os dois meses seguintes. Bebé sem conseguir mamar. Bebé no hospital porque perdeu muito peso. Eu desesperada. Bebé agarrado às mamas horas a fio. Bebé a querer biberão. Blá-blá-blá, insista na amamentação. Blá-blá-blá, suplemento. Blá-blá-blá, faça assim. Blá-blá-blá, faça assado. Pensamentos maus: Porque é que ninguém conta estas coisas? Porque é que ninguém diz: "os primeiros tempos com o bebé serão os piores da tua vida". Porque são. Felizmente, depois o cérebro encarrega-se de apagar isso.

2. Possessões demoníacas
O bebé chora. É fome. É porque odeia o banho. É porque tem de chorar, porque sendo bebé é a única coisa que sabe fazer. Chorar e dar cabo da cabeça à mãe e ao pai. Cala-te bebé, cala-te já. Ou isso ou chama-se um exorcista quando estiveres com as cólicas, isto é, quando estiveres com qualquer coisa que te faz berrar e que não fazemos puto de ideia como se resolve, como se acalma. O quê? Afinal isso tudo é porque o teu mal era sono?

3. Domesticação 

8h-  Bebé acorda e papa.  Mamas e biberão. Brinca um bocadinho na espreguiçadeira, enquanto a mãe toma o pequeno almoço.
9h30- Bebé volta ao berço. A mãe toma duche. Quando sai, o bebé adormeceu (sozinho)
11h- Bebé papa. Bebé passeia.
13h - Mãe almoça. Bebé almoça.
14h- Bebé dorme a sesta. A mãe também.
17h- Bebé lancha. A mãe lancha.
18h30- Bebé passa pelas brasas no colo da mãe, depois de ter brincado um bocadinho.
19h15 - Bebé toma banho
19h40 - Bebé janta.
20h30 - Bebé vai para a caminha.
20h45 - Mãe e pai jantam. Um longo serão à frente. Aleluia!


9 de junho de 2014

Jeremias (2000-2014)

Jeremias, o gato, morreu poucos dias do bebé ter nascido. Primeiro, foram os problemas com o rim. Mas sobreviveu; depois, parece que começou a ter um mal no fígado e foi-se em quarenta e oito horas, numa clínica veterinária, sem nenhum de nós por perto. Está sepultado debaixo de uma árvore na horta e acho que ficamos contentes de pelo menos podermos visitá-lo na sua última morada.

12 de fevereiro de 2014

Guilhermina da Silva Cota, quatro anos depois

Guilhermina da Silva Cota nasceu a 12 de Fevereiro e 1925 e morreu no início de Março de 2010. Faria hoje oitenta e nove anos, e pode dizer-se que morreu já com idade avançada, embora a sua mãe, também Guilhermina, tivesse morrido centenária.
Guilhermina da Silva Cota tinha o corpo tortuoso de uma árvore nodosa e morreu numa cama de hospital, abatida à força. Isso desgostou-a porque, consciente como era, teria preferido morrer de pé.
Quatro anos depois, ainda é difícil falar de Guilhermina da Silva Cota e ainda não há as palavras certas.
Talvez um dia.