30 de janeiro de 2005

Uma review

Sessão da meia-noite para ver o Closer.

Passei rapidamente os olhos pelas críticas do Público e do Expresso, para ver que opiniões havia a propósito. De um filme, gosta-se ou não.

O Expresso começa por errar ao fazer o resumo do filme:
"Jude Law é Dan, um escritor falhado que vive em Londres, cuja relação com Anna (Julia Roberts) está em crise e que um dia encontra na rua uma jovem americana, Alice (Natalie Portman), com quem estabelece uma relação".


Quem viu o filme sabe que Dan avista Alice na rua momentos antes de ela ser atropelada. É um coup de foudre. Eles vêem-se ao longe e sabem.

Enfim.
A crítica do Público é, no mínimo, obscura.
Porque é que é tão difícil dizer o que é bom e o que é mau?

A tradução do título é má: Mais Perto, parece-me, não podia estar mais longe do espírito da coisa. O que aquelas personagens jogam não é o mais perto, é o mais íntimo, a flor que habita dentro do coração- a questão que se me coloca é se o "mais perto" se transforma em "mais íntimo", isto é, se a fronteira da carne é realmente ultrapassada.

Li não sei onde sobre a promiscuidade do filme. Não há uma única cena de sexo, embora tudo envolva sexo. Os protagonistas são promíscuos? A promiscuidade é a busca da intimidade?

De regresso a casa, perguntavamo-nos se havia vencedores e vencidos. A Ana achava que, afinal, o filme era muito conservador porque quem se salvava era o casal-burguês casado.

Tenho as minhas dúvidas. Não sei se isso revela grande conservadorismo, por um lado. Por outro, pareceu-me que o filme sempre se tinha pautado pela dinâmica do casal.

O casal que subsiste é aquele que foi rejeitado. Anna rejeita Larry porque ama Dan; Dan rejeita Alice porque ama Anna; Dan, que enganou Alice, rejeita Anna ao perceber que ela, para ser feliz ao lado dele, satisfez um capricho sexual ao ex-marido, por forma a comprar o divórcio.

Dissipado o encanto do coup de foudre por Alice, Dan que entretanto ensaiara uns trémulos passos no meio literário sente necessidade de voltar a seduzir. E seduz Anna, quando esta o fotografa para a capa de O Aquário, o seu fracassado livro. E seduz Larry, fazendo-se passar por uma mulher- Anna- e marcando com ele um encontro, no Aquário de Londres. Larry e Anna acabam mesmo por se encontrar.

Larry, o dermatologista bruto e Anna, a fotografa sensível começam a namorar e acabam por casar, ainda que Anna o traia com Dan, ainda que Anna procure uma felicidade que, afinal, não vem num pacote.

O estranho que encontra estranho e que gostaria que ele não lhe fosse estranho.

Dan, o sedutor, não compreende a necessidade de des-estranhar o Outro. De traidor passa a traído, mas não compreende que a traição exige o perdão e que esta é a única via de acesso ao mais perto, mais íntimo, mais dentro.

Dan, o sedutor, acaba sem as suas duas mulheres. Ambas partem pela mesma razão. Ele não as conhece, não acredita nelas, prefere a sua versão a uma versão de consenso sobre os acontecimentos.

Talvez por isso o seu fim seja singular. De visita ao momumento que celebra as pessoas que morreram salvando outras (por onde passara com Alice no primeiro encontro entre ambos), repara numa placa com o nome de Alice Ayres, o nome usado por Alice.

Alice nunca existiu; Alice era a dupla personagem: a rapariga que quando tirava a roupa no clube de strip-tease deixava a sua personagem e usava o nome próprio- Jane Jones, o nome que insistentemente repete a Larry- para ser personagem. É, também por isso, quem mais exige a proximidade que Dan lhe nega.

Talvez pela sua recusa, pela sua fuga para a frente, Alice seja também quem sai mais limpa de toda a história porque exigindo a proximidade não se vende a qualquer proximidade: daí que ela atravesse o écran meneando-se, de cabelos caídos e compridos, inspirando o desejo nos homens, muito segura de si no final do filme.

Há coisas que não têm preço.

1 comentário:

Anónimo disse...

O meu filme de eleição de 2004/05. Não encontro uma razão, não sei o que me faz gostar do filme e querer vê-lo vezes sem conta. Gosta-se e pronto, não é? Mas tal como tu dizes, há coisas que não se compram... o amor é uma delas, até porque não há dinheiro que corrompa as entranhas de um coração. The Closer, the best.