Sentadas a uma mesa, bebericando café e água gaseificada, no Food Court do Saldanha Residence, vemos passar a vida.
Há um grupo multiétnico, que ri muito, duas mesas ao lado da nossa: um indiano (que não vende flores), um negro e um caucasiano desgrenhado (dir-se-ia israelita fumador de ganza).
Passa uma rapariga de mini-saia de ganga aos folhos. A saia é muito mini, o cabelo louro tapa-lhe os olhos e ela passa, diáfana e fatal, exibindo as botas castanhas de dominatrix, de cano alto, em que se enrosca uma tira de couro cheio de tachas.
O rapaz e a namorada: ambos votantes no PSD. Observem-se as calças justas à meia canela dele e não restarão dúvidas.
O grupo de solteiras. Vêm ver um filme. Como querem ser muito intelectuais têm bilhetes para o Quinto Império, embora lhes apetecesse ver Uns Sogros do Pior.
Achamo-las insípidas, enjoadas, frustradas, velhas, tão mais velhas do que nós. Não sabem ser solteiras como nós, lindas de morrer, perfeitas, a fumar cigarro atrás de cigarro, a rir das tonterias da noite anterior, a filosofar sobre tudo e sobre nada.
Somos peripatéticas pós-humanas, infelizes na nossa condição desligada, trotando pelo centro comercial, à espera de encontrar um génio numa garrafa que nos garanta que seremos felizes para sempre, mesmo que todos os princípes sejam um desencanto.
Há um grupo multiétnico, que ri muito, duas mesas ao lado da nossa: um indiano (que não vende flores), um negro e um caucasiano desgrenhado (dir-se-ia israelita fumador de ganza).
Passa uma rapariga de mini-saia de ganga aos folhos. A saia é muito mini, o cabelo louro tapa-lhe os olhos e ela passa, diáfana e fatal, exibindo as botas castanhas de dominatrix, de cano alto, em que se enrosca uma tira de couro cheio de tachas.
O rapaz e a namorada: ambos votantes no PSD. Observem-se as calças justas à meia canela dele e não restarão dúvidas.
O grupo de solteiras. Vêm ver um filme. Como querem ser muito intelectuais têm bilhetes para o Quinto Império, embora lhes apetecesse ver Uns Sogros do Pior.
Achamo-las insípidas, enjoadas, frustradas, velhas, tão mais velhas do que nós. Não sabem ser solteiras como nós, lindas de morrer, perfeitas, a fumar cigarro atrás de cigarro, a rir das tonterias da noite anterior, a filosofar sobre tudo e sobre nada.
Somos peripatéticas pós-humanas, infelizes na nossa condição desligada, trotando pelo centro comercial, à espera de encontrar um génio numa garrafa que nos garanta que seremos felizes para sempre, mesmo que todos os princípes sejam um desencanto.
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