20 de fevereiro de 2005

As duas, no Saldanha

Sentadas a uma mesa, bebericando café e água gaseificada, no Food Court do Saldanha Residence, vemos passar a vida.
Há um grupo multiétnico, que ri muito, duas mesas ao lado da nossa: um indiano (que não vende flores), um negro e um caucasiano desgrenhado (dir-se-ia israelita fumador de ganza).
Passa uma rapariga de mini-saia de ganga aos folhos. A saia é muito mini, o cabelo louro tapa-lhe os olhos e ela passa, diáfana e fatal, exibindo as botas castanhas de dominatrix, de cano alto, em que se enrosca uma tira de couro cheio de tachas.
O rapaz e a namorada: ambos votantes no PSD. Observem-se as calças justas à meia canela dele e não restarão dúvidas.
O grupo de solteiras. Vêm ver um filme. Como querem ser muito intelectuais têm bilhetes para o Quinto Império, embora lhes apetecesse ver Uns Sogros do Pior.
Achamo-las insípidas, enjoadas, frustradas, velhas, tão mais velhas do que nós. Não sabem ser solteiras como nós, lindas de morrer, perfeitas, a fumar cigarro atrás de cigarro, a rir das tonterias da noite anterior, a filosofar sobre tudo e sobre nada.
Somos peripatéticas pós-humanas, infelizes na nossa condição desligada, trotando pelo centro comercial, à espera de encontrar um génio numa garrafa que nos garanta que seremos felizes para sempre, mesmo que todos os princípes sejam um desencanto.

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