24 de novembro de 2006

O post em que finalmente falo de ti

Pergunto-me muitas vezes quando foi que acabámos. Quando foi que os nossos caminhos divergiram tanto que se tornaram irreconciliáveis. Penso muitas vezes que nunca andámos, de facto. Nunca fizemos o caminho juntos. Embora eu tenha querido, pelo menos. Quis, muitas vezes, tornar o meu percurso menos acidentado. E acreditava que a teu lado tal era possível. Não era, por muitas razões: para ti não havia obstáculos. Para mim, o obstáculo éramos nós mesmos, incapazes de largarmos o caminho que individualmente queríamos fazer e ir pelo outro lado.
Conversa para boi dormir, pensas.
No entanto, mais nada me resta além das palavras. Somos um para o outro apenas uma mistura de palavras e memórias sangradas. Vale isso o que vale. Somos apenas palavras. Não seremos nunca actos. Apenas discurso.
Actos e discurso são coisas confusas e enredadas. Contraditórias. Humanas. Não há nada que me explique de forma liminar e cabal. Sou outras coisa. Estou na dobra. Amo e odeio com a mesma força. Choro e sorrio com a mesma inteireza. Incompreensível, para quem só vê uma das faces do problema, que considera o problema plano e direito. E no entanto, o problema é sempre multidimensionado: modelado por quantas mãos o vivem e por quantos momentos o fazem.
Filosofia barata, dirás.
E no entanto: este ser difuso que sinto, este ser sozinha que sou é a única coisa que faz sentido para mim. Imagino-me longe de tudo, longe de mim, muitas vezes, distante e etérea. Longe de tudo. E isso faz-me: o quê?
Pergunto: há quanto tempo fomos embora um do outro e porque é que insistimos tanto em não ir embora? Se fomos embora há tanto, tanto tempo... Se não estivemos, afinal. Se os corpos estiveram, mas a alma nunca foi a mesma. Então que resta: esforço? suor? lágrimas? sangue? fingimento? novo engano?
Esforcei-me, transpirei, chorei, sangrei, fingi, enganei. Amei em todos os momentos. E não amei, em simultâneo. Tudo difuso e confuso. Desconexo.
Sou só discurso.
(Afinal é o que nos resta)

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