22 de fevereiro de 2007

PDA (Public Display of Affection)

O que interessa à narrativa é o primeiro olhar que ambos cruzam na sala barulhenta - boy meets girl ou girl meets boy, como preferirem.
O primeiro olhar apresenta-os inequivocamente um ao outro: encontrando-se e reconhecendo-se, ambos vindos do fundo da escuridão da sala barulhenta. Ambos sabendo o final da narrativa, ainda por contar, desde esse primeiro olhar de reconhecimento.
Como um íman, acabam por se aproximar. Conversam. Sorriem-se. As vozes reconhecendo-se; os cheiros imperceptíveis que se confundem. Gotas de perfume hormonal indistinguíveis, microscopicamente processadas, despertando a flor do desejo. A conversa é só uma maneira social de atrasar o clímax: boca reconhecendo boca, mão descobrindo mão, corpo sentindo corpo.
De facto, podiam atravessar a noite em silêncio. As palavras tão supérfluas.
De facto, há um silêncio que se instala, apesar da sala barulhenta, e que os torna surdos a tudo em redor. Vem quando a primeira boca encontra a segunda boca e as línguas se tocam.
Boca-na-boca
Mão-na-mão
Corpo a crescer para corpo
Respiração lenta
Boca-pescoço-mão-nádega-mão-mama-boca-boca-mão-coxas-mão-costas
Olhos fechados
Reconhecimento táctil
Mãos moldando o barro quente dos corpos.
Obscenidade em crescendo.
Nada interrompe a orgia e a obscenidade da demonstração pública do afecto súbito, incontrolável, animalesco, eterno.



Sem comentários: