29 de março de 2008

Segunda-Feira de Páscoa


(Botticelli, Primavera, c. 1482)

Nunca comi ovos da Páscoa, nem folares. A minha Páscoa eram amêndoas tipo-francês: drageias cor-de-rosa e azuis, a derreterem na boca.
Nunca íamos à missa, nem jejuávamos na 6ª Feira Santa, que me lembre. Os meus pais nunca quiseram que eu tivesse Religião e Moral, nem me fizeram ir à cataquese. A minha experiência religiosa resumiu-se ao baptismo e a três missas. Por isso, nunca a Páscoa me foi explicada como a história da morte e ressurreição de Cristo.
Acompanhando as amêndoas tipo-francês, aparecia invariavelmente o borrego - consumido ora assado com batatinhas novas, ora guisado com feijão verde, ora em costeletas panadas com arroz.
Na tradição pascal, o dia verdadeiramente sagrado era a Segunda-Feira de Páscoa. Pegávamos na trouxa e estendíamos uma manta e uma toalha perto de um ribeiro. Nós, as crianças, corríamos por ali, no meio da erva nova, no meio das flores, observando as joaninhas ou as salamandras ou os pardais, ou as cores. Os adultos pescavam. Jogávamos à bola. Comíamos o borrego com as batatas assadas e bolos transportados dentro de tupperwares.
Não celebravamos a ressurreição de Cristo, mas sim a chegada da Primavera.

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