O Estado do Tempo

Em Portugal, as condições atmosféricas não se limitam a ser um desbloqueador de conversa, útil quando temos de mostrar um sorriso a um colega, no elevador. O tempo é assunto nacional.
Lendo o Público, verifico que os 3 dias solarengos e quentes que temos tido já começam a ser problemáticos. Felizmente, na próxima semana regressa o tempo de chuva. Se chover mais do que dois dias - ou mesmo se tivermos apenas umas nuvenzitas no céu - o Instituto de Meteorologia e Geofísica será indagado, em directo para todos os telejornais e acalmará os alarmados portugueses: não temas, ó nação!, o sol voltará a brilhar.
No fim-de-semana do 25 de Abril e no de 1 de Maio, as televisões seguirão de perto os portugueses que foram até à colónia de férias do país e acompanhará as peripécias de várias famílias, que estarão, inevitavelmente, incomodadas com o tempo: porque chove ou porque está demasiado calor; porque faz vento e a praia fica desagradável; porque a noite é fria e não convida a cervejas geladas. Deixo a panóplia de problemas derivados do tempo, à vossa consideração, leitores.
Um dos aspectos em que o tempo mais influencia os portugueses é na participação eleitoral: o mau tempo e o bom tempo são justificações igualmente válidas para a abstenção. E se o tempo estiver assim-assim, temos pena: mas estávamos demasiado aborrecidos, meio-tristes, um tanto ou quanto melancólicos para exercer o direito de voto.
E nas cheias, nas geadas, nos granizos, no calor excessivo, no nevão inusitado, no vento que despenteou aquela menina linda que saiu ainda agora do cabeleireiro, naturalmente, a culpa é do Governo. E sendo a culpa do Governo, cuja eleição derivou directamente de uma condição atmosférica X, influenciadora da nossa disponibilidade para ir até à mesa de voto e pôr uma cruz no boletim, chegamos à conclusão de que afinal, todos os males imputáveis à Nação nos transcendem de facto - são do tempo!