12 de maio de 2008

O fato como interface

(René Magritte. The Son of Man, oil, 1964)

Passam solenes, compostos e intrigantes. Descendo qualquer rua, parasitando a zona da restauração de qualquer centro comercial, ei-los. Não transpiram quando está sol. Não se arrepiam se está frio. Brilhantes, elegantes.
Usam ao lado mulheres como eles solenes, compostas e intrigantes, de madeixas louro-tia, corpo ginasiado e bronzeado perpétuo.
Mistério nessa horda de homens de cinza trajados. Quem são? Que vidas as suas? Que pensamentos? Que preocupações?
Completamente alheios de mim - e eu deles alheia - o cinza que os cobre é uma ardósia que só se pegarmos no giz adquire significância.
Saídos do mesmo molde, o vosso espaço cinzento é um écran desligado.
O quê atrás do casaco de bom corte, da gravata de seda, da camisa engomada na lavandaria? Que corpo? Como desenhar o vosso torso, ó homens que desceis iguais as avenidas, paridos de dentro de escritórios? Homens que vos imagino tão estéreis e tristes?

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