20 de maio de 2008

Planos da Pólvora & Complicómetros (versão 2.0)

Houve um tempo das nossas vidas que desejávamos planear tudo detalhadamente. Sabíamos, mesmo quando gizávamos os nossos planos, eles nunca iriam ser cumpridos. Os planos da pólvora eram sempre detalhadíssimos, imbricados, metiam mais pessoas, coisas que queríamos fazer com elas e tinham sempre uma promessa de felicidade como corolário.
Nunca nenhum plano da pólvora teve o resultado desejado.
De facto, nenhum dos planos se concretizou.
É claro que tivémos pena na altura. Sofremos. Mas julgo que, agora, passado tanto tempo, olhamos para trás, complacentes connosco. Não fomos nós que falhámos realmente. Apenas o sonho era mais forte que a realidade. Não sabíamos nada. Ainda não sabemos.
Por exemplo, não sabemos (ainda) como calar essa bomba que vive alojada no nosso peito e que tudo enreda.
O complicómetro é coisa tão terrível: mecanismo ou bicho, coisa que alastra até à garganta e nos tolda os sentidos - como desarmadilhá-lo?
O seu mecanismo a tiquetaquear inflama a nossa imaginação. Passando a viver no mundo dos sonhos, os nossos olhos deformam a realidade. É como estar dentro da casa dos espelhos no Jardim Zoológico. Das mil possibilidades, a imagem que fica é a mais grotesca.
Conscientes disto, tentamos desligar o animal-mecânico em nós.
Racionais nos achamos.
Pensando que calámos o bicho, metemo-nos de novo à estrada. Sem sonhos, sem imaginações fervilhantes. Racionais somos. Porém, nesse exacto momento, já estamos a imaginar o caminho que desejaríamos.

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