26, pela 6ª vez, a 7 de Agosto

Nasci a um sábado, rompia o sol.
A minha mãe fala de como foi rápido e de como em 76 as maçãs-cunha eram deliciosas.
O meu pai fala do meu nariz inchado e das gotas que me puseram nos olhos. De como o meu nariz era batatudo. A minha mãe fala das minhas orelhas. O meu pai correu para o registo e pôs-me o nome, à revelia da minha mãe. Durante muito tempo, fui a Mena ou a Barradinhas. Só me transformei em Filomena na escola primária e, durante muito tempo, "Filomena" não era bem o meu nome, mas um conjunto demasiado longo de sons, a que me fui habituando ao ponto de hoje a "Mena" não existir, excepto no círculo restrito da família.
Os registos fotográficos da minha existência: eu rindo, deitada na cama; eu a tomar banho; eu rasgando, sorridente, papel higiénico; eu no meio das flores; eu num campo, como se fora a Heidi.
Várias festas de aniversário ao longo dos anos. Eis-me no quintal da casa de Cabrela: metades de papo-secos com fiambre empilhados em pratos; fatias de salame de chocolate; mousse; bolos modestos com uma vela. Meninas que me ofereciam taças de vidro para o enxoval, quando eu tinha oito anos. Eis-me aqui em Montemor: jantares no Leilão, com os amigos de outrora. Penteados saídos dos anos 90, pouposos. Eis-me no aniversário de 97, aos 21, quando o mundo parecia de uma inteireza tal que nada, nada o poderia destruir, tal era a força dessa amizade espessa que envolvia tudo e todos.
E agora?
Aos 32 como é que era suposto uma miúda ser? Ter já alcançado e apontado no caderninho moleskine das vitórias pessoais?
(-Tens 26, não é?
- Não, faço 32 este ano.
-Sério? Bom, passavas bem pelos 26.)
Bom, se não alcancei mais nada, alcancei os 32 com poucas rugas. Não é mau.