19 de junho de 2009

Os cantautores

De repente, na comunicação social, comecei a encontrar pura e límpida uma palavra nova: cantautor.
Muitas vezes, nas aulas, invento palavras para ilustrar uma das propriedades distintivas da linguagem verbal humana - a criatividade.
Se tivesse inventado cantautor, explicaria aos alunos que se trata de uma palavra formada por aglutinação, de cantor+autor. E eles replicariam: "Mas isso existe? Não existe, pois não?". E eu: "Só não existe se não usarmos a palavra. Se a usarmos e se lhe atribuirmos um significado, então, sim, existe."
Mas o que eu venho embirrando, senhores, com o cantautor não tem explicação.
De repente, todas aquelas figuras que reputávamos como cantores passaram a ser também autores. Não são meros executantes. Detêm a propriedade intelectual daquilo que cantam e é necessário inventar uma palavra na língua que dê conta desta minudência de sentido. É de esperar que, muito em breve, tenhamos musicautores, escritautores, pintautores, bailautores, cozinhautores, etc. É como se por cada actividade houvesse a necessidade de distinguir entre os meros executantes e os brilhantes génios criativos.
Num momento em que se discute ainda o caso do Pirate Bay e em que uma cidadã americana foi condenada em cerca de um milhão de euros pelo download de 24 (!) músicas, pergunto-me se esta coisa do cantautor não será uma estratégia (parva) para manipular os nossos afectos. Algo do género: "Oh pá, não saques essas músicas do Coiso, que ele é um cantautor muito conhecido, e se descarregas isso, o cantautor, coitadinho, vê a sua propriedade intelectual violada e a curto prazo acabará por morrer à fome, etc".

3 comentários:

Unknown disse...

O tema é da maior importância. Desde que Tony assumiu que sim copiou os acordes da cançoneta "depois de ti mais nada", nada lhe acontecendo, é caso para dizer que depois disto, a propriedade intelectual morreu! E morreu de decadência física.

wandax disse...

e deixa-me acrescentar Duarte, que ao Tony nada aconteceu, nem mesmo o capachinho lhe caíu... (ele tem capachinho não tem? eu juro que tem!)

Anónimo disse...

Oh, ja nao tenho o nome disponíbel... o tony é o home que o povo quer, o aparentemente bom pai, amante, namorado, marido, cantarolador, trocador de lâmpadas fundidas, reparador/desentupidor de canos e companhia ideal para os bailaricos, fazendo a inveja das inimigas todas lá da aldeia. Confesso que prefiro a verdade da mentira do marco de paulo, me encanta mais, é mais genuíno