5 de julho de 2010

Espanha: sins e nãos


No rescaldo da semana em que visitei o Al-Andalus, Espanha eliminou Portugal do Mundial, o governo impediu o negócio da Telefónica com a PT e tive como vizinhos numa praia da costa alentejana, um grupo de nuestros hermanos que comeu tapas o dia todo, impõe-se que o Ultrabanalidades reflicta nos sins e nãos de Espanha. Ei-los:

  • SIM: A Rua - Enquanto os portugueses se enfiam no centro comercial mais próximo para aproveitar os benefícios do AC, os espanhóis dormem a sesta e saem ao final do dia para a rua. Como o comércio de rua está aberto até mais tarde, as pessoas podem fazer as suas compras. Além disso, em muitos lugares, há panos dependurados de um prédio ao outro, para fazer sombra aos passantes. Como os panos não estão completamente fixos, movimentam-se ao sabor do vento e proporcionam uma bela brisa. Se isso não for suficiente, o leque faz o resto.
  • NÃO: As Estradas - Muitos portugueses revoltam-se com o facto de pagarem portagens, afirmando que em Espanha as auto-estradas são grátis. O que é falso. Andei bastante nas auto-estradas galegas e não só não são grátis, como são caras. Há, claro, o equivalente, às nossas SCUTS, só que com pior piso, pior sinalização, e piores serviços. O que me leva a outro não.
  • NÃO: Bombas de Gasolina & Áreas de Serviço - You get what you pay for. É verdade que os combustíveis são mais baratos em Espanha do que em Portugal. Eu própria vou frequentes vezes à fronteira de Valência de Alcântara atestar. Mas aquilo que eu sempre achei acerca desta bomba fronteiriça, aplica-se às restantes bombas: são todas elas uma espécie de cápsula do tempo. A desordem impera. Vendem-se garrafas de água, filmes pornográficos, sacos de batatas, cordas, pesticidas, caramelos de pinhão, azeite embalado em ex-garrafões de água.
  • NÃO: A Higiene - A ASAE, de que muito nos queixámos, ainda não chegou a Espanha, e isso tem resultados desastrosos: as mesas dos cafés nunca estão limpas, toda a gente fuma em todo o lado, os galheteiros engordurados pululam. Mexe-se com as mãos em tudo e ninguém se enoja.
  • NÃO: Os Preços - Não é bem os preços. É aquela coisa de o IVA vir à parte, quando se vê uma ementa dum restaurante. Pensamos que vamos pagar uma coisa mas, halas!, falta acrescentar o IVA de 7%.
  • Talvez: A Comida - não embirro com as tapas, gostos de calamares e de jolas. Mas é um pouco estranho aquilo de não se jantar.
  • SIM: Os Monumentos - encaremos a realidade: os monumentos de Espanha são melhores que os portugueses. Os monumentos portugueses são giros, são fofinhos, são pequeninos. Os monumentos espanhóis são monumentais, massivos, exagerados.
  • SIM: A monarquia: O rei Juan Carlos e a Rainha Sofia têm mais dignidade do que Cavaco e Maria. Também têm mais dignidade do que Duarte Pio e a esposa e os infantes.
    Talvez a solução neste caso fosse mesmo a união ibérica. Glup!
  • NÃO: A Língua - o castelhano é a língua de Cervantes e Cervantes escreveu o Quijote. Está bem. Mas palavras como "muñeca" e "rincón" são muito feias. Muito feias mesmo. E há aquela coisa de porem o som parecido com um R, um pouco por todo o lado. E não por causa dos pontos de interrogação e exclamação invertidos, no início das frases.
  • NÃO: Os Espanhóis - o principal problema dos espanhóis é serem muito barulhentos. E serem muito parecidos connosco. Um português pode admirar um francês, um alemão, um inglês... mas a admiração por um espanhol é sempre limitada. Invejamo-los, achamos que vivem melhor (apesar da crise e do desemprego) e estamos convencidos que eles nos cobiçam, por capricho, as coisas giras e pequeninas que temos.
Um português quando vai a Espanha tem um único objectivo: sentir-se mais português! Olé!

2 comentários:

Unknown disse...

Não concordo com nenhum "não" teu! Mesmo a falta da ASAE hermana tem o seu encanto, tal como as nossas tascas o têm. Não estou seguro quanto ao "sim" da monarquia, no sentido da dignidade da coisa. Talvez concorde que a rainha sofia é uma lady, o rei já não sei...

Maria Filomena Barradas disse...

Compreendo a tua apreensão. Tu discordas dos meus "nãos" como quem faz antropologia. No que diz respeito à monarquia, se o D. Duarte Pio fosse o rei português, eu seria a primeira a iniciar um movimento de libertação republicana!