31 de maio de 2013

O Sexo e a Chachada

Sentada no sofá, comando em riste, redescubro O Sexo e a Cidade no FoxLife. A história de sempre: quatro amigas, princesinhas de New York cidade, em busca de seus príncipe encantado, mas sucumbindo aos encanto de sapos. Esperam elas, esperamos nós, que afinal os sapos lhes ofereçam anéis de diamante, selando promessas de viveram felizes para sempre.

Com franqueza: já não há cu que aguente.

Talvez entre 1998 e 2004 (anos em que a série foi produzida), ainda se conseguisse vender a ideia de que a vida era uma festa permamente, que se devia enfrentar em cima de uns sapatos Manolo Blahnik e de copo de champanhe na mão, enquanto se ia ao bar mais trendy de Manhattan, fazendo figas para que estivesse lá o nosso mais que tudo. Ele seria rico, giro, misterioso. Seria sobretudo não sei quê e estaria disposto a amar-nos de formas confusas, porque no fundo era sensível (como nós), embora isso redundasse no nosso sofrimento (que perdoávamos - porque não há amor sem sofrimento).

Este glamour de purpurinas, que está em todos os episódios da série e que atinge o seu apogeu nos dois piores filmes alguma vez realizados, que dantes me encantava, agora dá-me vómitos.

O Sexo e a Cidade sempre foi pernicioso. Mascarado de celebração da independência feminina, mostrava que uma mulher independente e senhora de si, só tinha uma coisa a desejar: um Senhor dela.

Charlotte, que trabalha em não sei quê muito giro, suspira porque descobre que o seu príncipe encantado Trey se revela um epic fail no que às actividades camais respeita (na terceira season); talvez seja porque Charlotte faça o papel de tolinha, mas sempre me pareceu que o desastre estava inscrito na pobre cara do actor escolhido para desempenhar a personagem. Que me perdoem os fãs do saudoso Twin Peaks: mas o Kyle MacLachan sempre me pareceu feito de borracha e claro que, depois do divórcio, Charlotte descobre um portento sexual judaico que a leva à felicidade. Não esquecer que apesar de careca, o judeu (porque é judeu) tem dinheiro. E é bom na cama, não esquecer.

Samantha, que trabalha em não sei quê giríssimo, suspira também. Mas, no caso é porque está invariavelmente a fazer sexo. É a slut, pelo que merece o castigo de um cancro. Mas recupera, as putas também têm direito à vida e também amam e são amadas, embora só de vez em quando. Quando amam preferem homens mais velhos; mas são os homens mais novos que as amam, o que lhes é incompreensível. Tendo sido programadas para atenderem a Senhores, as sluts mesmo quando subvertem as regras do jogo nunca conseguem assumir o seu estatuto de mulheres plenas. Fazem só de conta. Samantha não entende durante muito tempo o amor de Smith Jerrod porque é igualitário.

Miranda, que é a única que sempre me pareceu ter uma profissão, suspira também. Mas depois vai viver com o namorado e maternaliza-se. Sendo a personagem mais pragmática, não deixa de ser curioso que a actriz que a encarna seja, afinal, lésbica (e gira).

E Carrie, que dizer? Fashion icon, Carrie Bradshaw escreve sobre as coisas purpurinas que polvilham a sua delicodoce vida, na coluna "O Sexo e A Cidade". É uma espécie de crónica social com preservativos à mistura. Mas Carrie sofre. Ele é o inconstante Big (financeiro), ele é o fiável Aidan (marceneiro), ele é o intrigante amante russo (artista plástico). Assim, duma penada, a doce Carrie cobre (literalmente e metaforicamente) homens que profissionalmente representam tudo aquilo que qualquer mulher deseja: um cartão de crédito, quem lhe monte os móveis IKEA e com quem vá ao cinema. Tal como Carrie sabe, nós também que é difícil encontrar estas três características num só tipo: ou só pensam em dinheiro, ou só pensam no bricolage e no benfica, ou são paneleiros. Carrie veste vestidos fabulosos, calça sapatos fabulosos e é tudo maravilhoso em sua vida temperada a flutes de champanhe. Perante a formidável Carrie, qualquer Filomena, ficava aterrada. Mas depois, aquela história com o Big (às tantas, a nossa heroína descobre que ele afinal sabe aparafusar coisas e até viu metade dum filme do Fellini antes de ter adormecido), ENJOA. Carrie, garota, as pessoas não mudam! Se o gajo te chateia e te empata, manda-o bugiar! Estafermos é o que não falta! (Cf. marceneiro e artista plástico).


Em 2013, minhas amigas, se continuam a acreditar nesta chachada, procurem ajuda especializada. Para as pessoas normais, o momento actual é pouco glamouroso. Quando muito conseguimos encontrar uns sapatos Manolito Blanyca, made in PRC. Champanhe só se for marca Champal, à venda no Lidl. E nos eventos que ainda há deixaram de servir rissóis de camarão e croquetes. Talvez conheçam o homem da vossa vida lá. Mas o mais importante é que eles descubram, num sítio qualquer, que vocês são as mulheres da vida deles. E, que só por isso, não estão para aturar merdas.

Se for preciso, até montam sozinhas uma estante Besta. Mesmo que se desmonte no dia seguinte.
Se for preciso, até vão ao cinema, a uma exposição, a um concerto ou a um piquenique romântico sozinhas.
Se for preciso, pagam as contas todas. Ainda que custe muito.
Essa é que é essa.



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