11 de fevereiro de 2005

Memory Lane

Há uns anos (parecem-me sempre muito mais do que aqueles que são), quando acabei definitivamente com o meu caso que durava há cinco, ou seis, ou sete (não interessa o tempo, porque todo esse tempo foi demais) foi tudo tão fácil e indolor.
Tenho comentado com várias pessoas e digo: já não lhe suportava o cheiro. Mas não era só o cheiro que não lhe suportava: era o toque, era a voz, era a conversa, era o não ir a lado nenhum, eram todas as diferenças abissais que nos separavam e que, durante muito, me esforcei por ignorar, por compatibilizar.
A maior parte das pessoas, dos namorados, dos gajos, dos amigos e das amigas não percebe até que ponto dou a comer o meu coração: como aquele fulano do Porto, que não adianta lembrar, mas que amei com paixão desmedida e tonta tonta tonta. Depois de uma ida no Alfa-Pendular ao Porto, de desculpas esfarrapadas e de um ramo horrendo de orquídeas devo ter percebido que aquilo era uma fantasia da minha cabeça.
Dito assim, parece ter sido pouco, mas andei neste sonho meses; e queria acreditar no sonho; queria que ele fosse de verdade. Não sei quando deixou de ser. Talvez na altura em que havia algo de tão concreto nos meus afectos que parecia mais mentira do que os sonhos. Sobre isso escrevi um texto no Heterobanalidades:

"novembro 12, 2003

Intimidade

Intimidade era estarmos os dois enroscados e depois, quando acordávamos, cruzarmo-nos na casa-de-banho, no mesmo espelho: tu a fazeres a barba, eu a escovar os dentes, tu a penteares o cabelo, eu a pôr creme. Intimidade era descobrir as espinhas do peixe e averiguar onde é que ele tinha sido comprado e rir das espinhas, num jeito fulo e tolo. Intimidade era o casaco azul, a t-shirt de trazer por casa, a roupa espalhada pelo chão e um gato aos pés da cama, dormindo entre nós, família estranha e íntima, desconhecedora da sua intimidade."

Ainda hoje me emociono quando leio o que escrevi, porque me lembro sempre de coisas boas, que as palavras não podem dizer.

Hoje sinto-me triste.

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