27 de agosto de 2006

"- Oh, este Paris, Jacinto, este teu Paris! Que enorme, que grosseiro bazar!"

"- Oh, este Paris, Jacinto, este teu Paris! Que enorme, que grosseiro bazar!" (A Cidade e as Serras, Eça de Queirós)

Paris é como uma cidade de brincar, percorrida por um rio de brincar (não sei donde vem, nem para onde vai o Sena: parece-me ter sido posto ali, com os seus barcos, apenas decorativamente, embora a Wikipedia me diga que não). Assustadoramente perfeita a cidade: ampla e plana. Prédios-mausoléus deslumbrantes e todos iguais. Jardins verdejantes. Chuva e frio em Agosto, inusitadamente. Comida à emporter e "des croissants aux amandes". Eu a entupir-me, graças à companhia, de MacDonald's, porque podíamos morrer envenenados com as iguarias locais. Eu a andar quilómetros sob a terra, em estações do metro, todas iguais, e de escadas sujas. Eu a andar quilómetros nos museus, como se isso me fizesse mais inteligente, mais estética. Eu a odiar os quilómetros do Louvre, os japoneses de máquina fotográfica em punho, o meu companheiro e o seu plano diário de registar fotograficamente todos os minúsculos momentos, como se as fotos substituissem as experiências. A Mona Lisa rodeada de basbaques. A multidão espantada para a Vénus de Milo. Os corredores sem fim. A obrigatoriedade de ser turista, quando me apetecia apenas olhar para as pessoas e procurar as coisas que não vêm no guia de viagens. A chuva que me constipou. O frio. Eu, no MacDonald's dos Champs Elysées de lágrimas nos olhos a sentir-me terrivelmente sozinha e deslocada, sem perceber porque estava ali e que erro era aquele que me deixara ali. Eu muito cansada, triste e farta de tanta monumentalidade. Cansada das ruas que não acabavam, dos japoneses e dos espanhóis e dos italianos e dos museus e da cidade petrificada, como se não existisse para além da sua turisticalidade.

3 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Maybe you should relax a little, maybe you should take a deep breath... travelling is one of the most wonderful things we have in life! Enjoy it as much as you can... you'll see it could be a magnificent experience! try to take advantage of all the situations... your next trip will be different, for sure! enjoy it!

Maria Filomena Barradas disse...

Há coisas muito simples com as quais não nos deslumbramos; porquê a obrigatoriedade de me deslumbrar apenas com as viagens? As viagens não nos tornam mais giros e espertos, se não formos já giros e espertos. Viajar e conhecer outras coisas não implica a rendição incondicional a coisa alguma, nem encómios palavrosos, nem um olhar deprimido para a nossa realidade. Implica, quanto a mim, um olhar crítico. Gosto mais de Lisboa do que de Paris. Gosto do Tejo e do céu azul ferrete, como dizia o Eça; gosto de prédios às cores, e da mancha azul do rio ao fundo; gosto da roupa estendida nos prédios de azulejo. Este país não é uma choldra; nós, é que por pena endémica de nós próprios, julgamos que sim.