"(...) Esta dificuldade de discriminação da linha exacta onde acabamos e começamos está provavelmente relacionada com a pouca propensão para a visão intelectual das coisas e com o predomínio da emotividade que se refugia no coração, isto é, no interior da personalidade. É uma dificuldade de objectivação.
[Os Portugueses] Sentem obscuramente e realizam na afectividade os valores, mas não os sabem intelectualmente. A inteligência é cortante e separadora; só ela sabe onde começa e acaba a subjectividade, o meu e o teu. A emotividade, pelo contrário, é amalgamante. Assim o Português sente a sua identidade (é o caroço ou nó resistente), mas não discrimina os seus limites ou fronteiras. No seu comportamento histórico age como se fosse o centro do mundo e não concebe o outro senão à sua imagem e semelhança; por isso mesmo se mistura com ele ou se retrai, quando se sente em posição de inferioridade. (...)"
António José Saraiva, "Algumas Feições Persistentes da Personalidade Cultura Portuguesa", in a Cultura em Portugal - volume 1, Lisboa, Gradiva, 1998
Sem comentários:
Enviar um comentário