26 de maio de 2008

Novembro-em-Maio

Penso nas sandálias e nas saias que queria vestir. Uma saia assim, a-voar-a-voar. Umas sandálias nos pés sem meias. Descalçar-me e dar passos na relva da ESTG. Penso em mangas curtas. Em calças de linho. Novamente em sandálias. Numas novas. Óculos de sol. Caracóis e imperiais na esplanada. Penso na praia. Por este caminho, quando irei ao Pego? Mergulhos na água. Dormir um dia inteiro debaixo do guarda-sol, avistar a fina flor do socialite no areal, antes de voltar muuito cansada a casa.
Por vergonha, não ligo o aquecedor. É Maio. Não se justifica. Embrulhada em polares escrevo.
Lá fora, os rouxinóis calaram-se. Mas isso não impede a profusão de flores. Dizia-me o Duarte:
- Já viste que a natureza está a explodir?
E estava mesmo. Coisa verificável a partir da janela do 3.32.
Basta uma viagem de carro - campos em alfazema e ouro. Manchas coloridas por todo o lado. Nenhuma objectiva que capte a cor real.
No céu, há dias, uma cegonha passava - e parecia carregar no bico uma criança. Afinal havia mesmo um fundo de verdade nos bonequinhos dos bolos de baptismo.
Choveu o dia todo, hoje. Um dia tão tristonho. Viro-me para os alunos e comento:
- Passamos o ano com chuva.
É verdade. Desde Outubro que está esta luminosidade dentro da sala. Uma coisa fosca, grosseira. Um tempo parisiense. Seria desculpável e entendível, estivéssemos em Paris. Jardins em cada esquina, transportes públicos e árabes. Mas não.
Deviam estar 30 ºC. Devíamos estar um pouco queimados do sol e de mangas curtas e sandálias.
A Primavera assim já chateia.

Sem comentários: