30 de março de 2005

Ficção ao Redor de Hoper's Nighthawks


E se ele a está a tentar engatar? Não, impossível, coisa da minha imaginação. Ela não o faria. Faria?
Deste lado da rua, vendo-a levar o copo à boca, suspeitando-lhe o sorriso, angustio-me com as palavras que ele lhe sussura, com as bebidas que lhe paga. Os dois: tão íntimos.
Bastava atravessar a rua; entrar no bar; sentar-me ao lado ao balcão e acabar com as dúvidas. Pediria: uma cerveja, por favor! Pediria alto e bom som, para ela ver que era eu, que eu estava ali porque me importava. Ou então que não importava: que estava ali, a vê-la, mas que a desprezava - ela que sorrisse e passasse a mão pelo cabelo louro as vezes que quisesses, que empinasse as mamas dentro do vestido vermelho, que eu não me importava. Uma cerveja, e depois outra e depois outra, até à inconsciência.
Talvez ela tivesse pena de mim.
Talvez ela se levantasse e viesse até junto de mim.
Talvez.
Nunca saberei. Ficarei sempre deste lado da rua, sem coragem. Posted by Hello

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