28 de abril de 2008

Vida: manual do utilizador

O único super-poder que apreciava ter era saber andar de saltos altos sem me ficarem a doer os pés e manquear ao longo do dia.
Faltando-me essa capacidade, gostava ao menos de ter um livro intitulado Vida: Manual do Utilizador, que me orientasse e explicasse a maneira de resolver as dúvidas e incertezas que tenho.
Que descanso seria!
Imaginem só: todas as situações do quotidiano estariam, não só descritas, como também associadas a uma consequência futura. Não haveria nunca lugar para dúvidas. Sabíamos sempre o que é que a acção X nos reservava como consequência.
Sem um Manual de Utilizador, como é que se usa a vida? Como é que é possível as pessoas orientarem-se no meio da arbitrariedade, do precário, sendo a veemência da incerteza tão grande?
Se ao menos tivesse o poder de conseguir andar nuns sapatos de salto agulha, como a Carrie Bradshaw. Se ao menos alguém me escrevesse o guião...

4 comentários:

MonteMaior disse...

Tenho andado aqui a pensar escrever um texto sobre feminilidade e saltos altos. Mas não contes comigo para te escrever um guião sobre como andar de saltos altos, porque eu também não sei.
Revolta-me a ideia de que gaja que é gaja tem que saber andar de saltos altos. Gaja que é gaja tem que saber andar com aquilo que se sente mais confortável e os saltos altos que se lixem.

Maria Filomena Barradas disse...

Claro que podemos ter sempre a pretensão do look simples, do confortável, do cheiro a sabão azul e branco, da lingerie begezinha, das unhas sem verniz, da depilação por fazer, etc. Podemos achar que basta essa casta honestidade para sermos felizes, ignorando os apelos da indústria cosmética e de moda, sempre prontas a formatar-nos.
E no entanto: o confortável não é ele também uma formatação? O estereótipo da negação do estereótipo?

Anónimo disse...

Aparentemente, até isso já foi feito: La Vie mode d'emploi, de George Perec.

Anónimo disse...

Como é bom ter duvidas como é bom ter incertezas, axo k se soubessemos tudo o k a vida nos reserva era uma valente seca, era como comçar a ler um livro e ler logo o final.