Doenças Embaraçosas

No mundo das maleitas que afectam a Humanidade, as doenças que envolvem os intestinos são as mais embaraçosas.
Na verdade, todas as doenças são embaraçosas: mas há umas mais espirituais; outras mais carnais; outras mais na moda e outras completamente démodées.
Escorbuto, lepra, botulismo, pé chato são doenças fora de moda. Já ninguém padece delas. Há outras, como a erosão ácida, que devem ser uma invenção da indústria dos dentífricos, tal como o pé chato me parece ter sido inventado pelo lobby das botas ortopédicas.
As doenças psiquiátricas e psicológicas, todas elas inventadas por Freud, servem o grande propósito de catalogar todos os nossos humanos desvarios, de acordo com uma convenção de normalidade que alguém subscreveu por nós, sem nos ter pedido qualquer opinião.
A tuberculose, tão espiritual no século XIX, tornou-se numa das doenças dos agarradinhos. Não se morre de amor e tuberculose, mas de overdose e tuberculose.
Mas, dê-se que volta se der - doenças que envolvam os intestinos conseguem a habilidade de ser as mais embaraçosas para os portadores e as mais divertidas para os não-portadores.
O "trânsito intestinal" - na versão congestionada ou na versão fluxo demasiado rápido - deixa-nos entre a hilaridade e a má disposição.
É impossível levar a sério as campanhas publicitárias dos iogurtes Activia, dos Pursenides, dos Imodiuns: prisão de ventre e diarreias só apoquentam os outros. Pelo menos, até se chegar aos 30.
A partir daí, por incrível que pareça, por incrível que pareça, não há nada, não há nada, que não nos aconteça.
E o embaraço, senhores!, o embaraço!...