19 de março de 2009

Dos detectives

Na televisão, o correcto detective particular Poirot está de novo de férias.
Por alguma razão obscura, todos os detectives particulares (profissionais e amadores) da ficção estão sempre de férias.
Lembram-se dos Cinco? Calcorreavam a pé a Inglaterra, acampavam, faziam piqueniques, e nos intervalos desta azáfama descobriam um bando de contrabandistas escondidos numa casa cheia de passagens secretas.
Os nacionais heróis de Uma Aventura faziam mais ou menos a mesma coisa.
Isso deu-nos a ideia, durante a infância, de que havia crianças com muito mais liberdade que nós e muito mais espertas: os nossos pais nunca nos deixavam ir acampar sozinhos e nunca havia grandes mistérios por solucionar. Quando muito, levávamos uma reprimenda por divulgarmos que a vizinha do 3º andar se encontrava em segredo com o marido da senhora da mercearia.
A Jessica Flecter era a mesma coisa, mas em velhota.
Todos estes detectives têm como característica o seu amadorismo e a sua perspicácia. Isso é determinante para que (a) os mistérios venham ao seu encontro e (b) acabem a pôr a polícia a colaborar com eles. Note-se que este é um elemento importante: a polícia é sempre mais estúpida do que o detective "amador" que compreende a psicologia humana (Jessica Fletcher) ou é muito bisbilhoteiro (Os Cinco, Uma Aventura).
Poirot é tudo isto. No entanto, é também um detective profissional. Mas há casos em que Poirot é efectivamente contratado? Não me lembro. Poirot vai de férias. É convidado para casas magníficas e, apesar de ser um famoso detective, age sempre como detective amador. Não há memória de Poirot cobrar os honorários, por exemplo.
Os crimes com que estes desvendadores se confrontam são sempre complexos e intricados. Resultam duma capacidade refinada de engendrar planos dos quais resultaria o crime perfeito não fora a intervenção do detective amador.
Claro que o "crime perfeito" só era praticável antes da banalização das análises de ADN.
Agora, se quisermos praticar um crime perfeito, teremos de nos embrulhar previamente em celofane.
Mesmo assim, é bem provável que os homens do Horatio e do Grisom nos descubram. É que deixámos cair uma escama de pele delatora.

2 comentários:

Anónimo disse...

é o velho cliché de que a realidade é bem mais triste que a ficção... como gostaria de andar com a zé (salvo seja) ou tomar chá com a jessica...

Anónimo disse...

filomena... e as fotos do gianluca??? tu disseste que ias tratar delas e tal e tal... vá lá! ficaram bem?