24 de julho de 2008

One million dollar moment

Atravessar a ponte e ir acabar o dia chato-chato (ninguém valoriza do trabalho intelectual, senhores!) do outro lado, a ver o sol afundar-se lentamente no mar. Sentir os pés em contacto com a areia fina e ver as gaivotas à espera do seu saque de peixe. O vento salgando a pele e o cabelo. E então, foi uma alma e um espírito todos novos.

23 de julho de 2008

Sugestões para prendas de anos (2)

Todas liiiinddasss. Aqui.

Sugestões para prendas de anos (1)

Post em que a autora (de esquerda) de repente se revela uma reaccionária (de direita)

O arrumador de carros, de unhas nojentas e cor encardida, tem um telemóvel na mãos. Escreve um sms. Como é arrumador de carros, tem unhas nojentas e cor encardida, e não paga impostos, dou-lhe uma moeda de 1 euro, pensando, a medo que devia dar-lhe 50 cêntimos, porque a crise é para todos: uma moeda de euro, sem impostos, não paga pelo menos um duche? Talvez não. Talvez o encardimento pertença à personna. Talvez fiquemos sem pena e não demos dinheiro a um sujeito de cabelos limpos e barba feita.
Talvez ele, coitado, tenha um telemóvel com um daqueles tarifários muito baratos, 1500 sms à borla, chamadas à borla, etc., e precise muito de contactar com os seus fellow arrumadores, provavelmente para organizarem uma marcha lenta, exigindo melhores donativos voluntários e water closets: uma sanita e um chuveiro - embora isso, claro, lhes destruísse as personnas, interferisse com a sua identidade e especificidade cultural.
Desculpem-me leitores por me sentir assim, extremamente reaccionária.
("Reaccionário" é uma das palavras favoritas do meu pai, que ainda domina toda a retórica revolucionária e da Reforma Agrária, embora, desde há muito tenha deixado de ser comunista praticante para ser simplesmente do contra).
Desculpem-me: mas quando leio notícias como esta, não consigo tomar as dores dos pobres excluídos. Foram decerto os ciganos que construíram as barracas, que agora arderam. Pergunto-me porque é que, face à antiga indigente diligência, tenha uma Câmara Municipal, um governo, um grupo de cidadãos beneméritos de realojar os desgraçados!
As diferenças culturais e étnicas são muito engraçadas, porque raramente funcionam nos dois sentidos. Se a Câmara Municipal realoja os pobres excluídos era pelo menos obrigação dos desfavorecidos zelarem pelo património que lhes é confiado: em vez disso, transformam a casa de alvernaria em "barracas", em que o saneamento básico, a cozinha, os quartos são desnecessários e supérfluos. Para quê um fogão e um forno, se em seu lugar se pode fazer um magnífico lume de chão para assar um chouriço? Nada a recear: são idiossincrasias culturais.
Portanto, se as Câmaras e o Governo querem ajudar estes pobres desgraçados a única solução é distribuirem às famílias ciganas umas tendas-iglo. São barracas, não têm saneamento, nem divisões e são uma óptima opção no caso dos desgraçados quererem ir manifestar-se em frente a uma qualquer edilidade ou parlamento. A casa sempre com eles, eles sempre com a casa, recuperando as raízes nomádicas, respeitando as suas especificidades culturais e de modo de vida.
Tudo acabava em bem.

22 de julho de 2008

Sestário

Durante o almoço, defendo que todos os serviços público - BN incluída, é claro! - deviam ter um espaço reservado para 20 a 30 minutos de descanso dos leitores: o sestário.
Houvesse um sestário e a minha cabeça não penderia, como se não a conseguisse segurar. Realmente está-se bem aqui na sala de leitura. Fresco e agradável. Ainda assim, surpreendo-me com a cabeça a cair.
Um sestário era o que precisava. 20 a 30 minutos de olhos fechados e descanso dentro de uma napshell e voltar cheia de energia e vivacidade.

21 de julho de 2008

20 de julho de 2008

Gato Escaldado...

Eu e mamãe estivémos a dar banho ao Mias. Não corre mal, até ao momento em que ele salta, choroso da banheira. Lá dentro comporta-se e achamos que até gosta. Mas depois, cá fora, o pêlo pingando, é um desatino. Repudia as toalhas, quer-se esconder, fica excitadíssimo ao ouvir a voz do meu pai do outro lado da porta da casa-de-banho. Acalma-se sob o calor do secador, mas mesmo assim sai, patas e barriga todas molhadas. Esconde-se debaixo da cama dos meus pais. Lambe-se. Aparece daí a uns momentos. Cai no tapete da sala. A minha mãe dá-lhe comida não saudável e ele delira, guloso. Finalmente encontra o sofá e fica lá a descansar o dia todo.

18 de julho de 2008

E a defesa? É para quando?

Os meus colegas Duarte e Luísa entregaram hoje as suas teses de mestrado!
Parabéns!
:)

Canícula

A extensão do Accuweather que tenho instalada no Firefox promete-me que chegaremos aos 37ºC hoje e amanhã... 38º para Montemor.
Falta uma semana no meio dos ácaros e do pó e depois Meia Praia e Xpreitaqui.
E mentiria se dissesse que não sentirei falta da Armona.

Há mesmo pessoas que as compram...

Então, na esplanada, havia uma senhora que possuía a Bimby.
Descontrolei-me e quis saber tudo. Diz que a Bimby é óptima e produz 2-litros-2 de sopa, o que deve dar imenso jeito se forem quatro pessoas em casa: a sopa não retarda, dentro de tupperwares, no frigorífico. Faz também massa de tarte em 15-segundos-15. Que massa de tarte não averiguei, embora, por motivos vários, não me pareça tratar-se de massa folhada. 15 segundos: é de facto uma mais-valia se estivermos a produzir um filme cómico, cuja pièce de resistence é uma louca luta de tartes e acabamos todos com a cara cheia de chatilly e tal. Ou se formos americanos e comermos muitas peach pies. Também faz lombo mais-ou-menos assado, porque tem de ir ao forno acabar de tostar: atendendo a que um lombo assado se atira para dentro do forno, pergunto-me para que raio é necessário usar logo dois electrodomésticos. Talvez, talvez não seja a receita que faço.
Ah, e a Bimby é muito útil para fazer sopa para bebés.
A Bimby é a patusca dos nossos tempos!

17 de julho de 2008

Água na boca

Ao abrir os buraquinhos da persiana da cozinha, um cheiro intenso a porco preto grelhado, vindo do exterior.
A boca fica a salivar e penso nos deliciosos secretos, grelhados apenas com sal, pingando gordura. Penso em batatas fritas e vinho tinto.
De repente, apetece-me muito ir ao Solar do Forcado.
Alguém aceita o convite?

(Terminado o post, notei um certo tom laurindalvesco nele; perdoai ó leitores! perdoai! a autora não sabe o que faz!)

Contos da Mera Existência

Via AJR acabo de descobrir os Tales of Mere Existence.
Este e este são uma boa amostra do estado em que se encontra a autora.
este e ainda este são uma merecida homenagem ao Mias, que, coitado, com a canícula passa o tempo a dormir de pernas para o ar, muito corado (basta olhar para a ponta das orelhas e para o nariz todo rosado) tentando refrescar-se. E os miados do bicho... enfim, tal e qual o Mias, pois claro.

BBW (Big Beautiful Women)


Peter Paul Rubens, The Three Graces, Oil on wood, 221 x 181 cm, Prado, Madrid



Peter Paul Rubens, The Rape of the Daughters of Leucippus, c. 1618, Oil on canvas, 224 x 210.5 cm, Alte Pinakothek, Munich

Peter Paul Rubens, The Union of Earth and Water, c. 1618, Oil on canvas, 222.5 x 180.5 cm, Hermitage, St. Petersburg


9 de julho de 2008

Agora tem de ser a sério

Finalmente hoje fiz a inscrição no Doutoramento, nos Serviços Académicos da FLUL .
Que medo.
Não me posso baldar mais, pois não?

5 de julho de 2008

Não há nada pior do que a vida tornar-se num episódio da telenovela da TVI

Este post era para começar com uma citação sobre realidade e ficção. Uma citação que procurei no prefácio da minha edição Penguin do The Picture of Dorian Gray, pois pensava que era uma coisa que o Oscar Wilde tinha dito. Aparentemente estava enganada: e o google não solucionou o problema.
A tese de que queria partir neste post era a seguinte: não é a ficção que imita a realidade; é a realidade que imita a ficção. Não é uma tese nova. Há toda uma literatura sobre ela e toda uma literatura ficcional sobre ela: D. Quixote que perde o juízo porque lê romances de cavalaria; Luísa que trai o marido porque se pretende uma heroína romântica; nós a imitarmos as modas importadas do Brasil e as nossas crianças transformadas em epígonos das personagens dos Morangos com Açúcar.
Imaginemos agora o seguinte: deixamos de distinguir a linha que separa a realidade e a ficção. É normal. Confundimos o vilão da novela, com o actor que lhe dá corpo.
Mas vamos mais longe: criemos para a nossa vida uma narrativa paralela. Reinventemo-nos a cada momento. A minha proposta é que vivamos em autêntico estado de ficção.
Reparai que é uma proposta diversa de "viver em mentira". Enquanto a mentira é um subterfúgio momentâneo, a ficção exige coerência, narrativa, encadeamento, redes complexas de causas-efeitos, fazendo entrecruzar-se um grupo diminuto de personagens, num espaço-tempo reduzido. Sem esses ingredientes, estaríamos, como sempre, à mercê do caos da realidade.
A ficção exige pacto. Quem cria a ficção sabe que o que nos apresenta não é a realidade - mas nós fazemos de conta que é. Sem esse pacto, qualquer ficção se desmorona.
É uma pena que as pessoas que vivem na realidade não se compadeçam com estes modos de vida em ficção. Se achem incomodadas por eles.
Há lá coisa mais bonita do que um dia acordarmos e descobrir que somos as heroínas na narrativa de alguém? Pelo menos, olha, eu que me queixo tanto de à minha realidade faltar um manual de instruções para viver como adulta - teria o problema solucionado!
Como personagem duma ficção viveria inconsciente dessa mesma ficção; acreditaria tratar-se da minha realidade. E no entanto, no exacto momento, em que a minha ficção começasse perigosamente a assemelhar-se a um mau guião de telenovela... no momento em sentisse um puxão no braço, ocasionado pelo manipular do cordelinho ou percebesse que havia coisas incoerentes na narrativa - usar duas roupas diferentes na mesma cena, por exemplo - julgo que seria a primeira a quebrar o pacto.
Se alguém me quiser tornar em personagem da sua ficção, exijo pelo menos ser tratada condignamente: não há nada pior do que nos descobrirmos no meio duma telenovela que, apesar de escrita à pressa, se arrasta por vários milhões de episódios e onde os erros técnicos são por demais óbvios.
Acabado o encanto, o melhor é mesmo desligar o botão e regressar ao quotidiano aleatório e caótico.

4 de julho de 2008

Nonsense

Interrogada sobre os motivos que levaram à escolha dos últimos itens postados, expliquei sucintamente à leitora que há histórias com tão pouco sentido, com epílogos tão absurdos, que não tendo sido escritas pelo Beckett, não fazendo parte de uma rábula dos Monty Python, desmerecem qualquer tentativa de narrativização.